segunda-feira, 27 de junho de 2011

A trapalhada da longa distância ou A Bicicletada Junina

Cerca de 50km. É muito para se pedalar em um dia. Muito mesmo. Mas eu e o Tiago, da minha turma na faculdade, conseguimos. YES, SUCESSO!

A bicicletada é um evento que ocorre toda última sexta-feira do mês em diversas cidades no mundo todo. A de São Paulo é uma das mais tradicionais do Brasil, se não a mais. Trata-se de um passeio coletivo com dezenas ou centenas de ciclistas pedalando juntos por aí, em clima de festa e muitas vezes protesto. Há algum tempo vinha acompanhando os relatos de quem já foi e decidi que seria uma experiência inesquecível comparecer, ainda mais porque moro longe. E foi mesmo.

Ao lado, temos Wendy aguardando para rodar como louca.

A partida

A primeira parte da viagem foi chegar até o Tatuapé, onde tinha combinado de me encontrar com duas pessoas no grupo da Bicicletada_ZL. Foi rápido e tranquilo, pois esse trecho já conhecia bem. Em 45 minutos estávamos sentando para comer um cachorro-quente no Sujinho, que por sinal é muito bom. Até aí tudo bem, tínhamos 10 minutos de adiantamento em relação ao horário combinado e ficamos esperando.

O horário chegou e passou e nós lá, aguardando. E aguardando. E aguardando...

Às 19h decidimos que precisávamos partir, caso contrário não chegaríamos a tempo para a bicicletada, que parte na Av. Paulista, mais especificamente na Praça do Ciclista, cruzamento com a R. da Consolação. O horário oficial é 20h, mas agentes especiais me informaram que sempre há um certo atraso. Pensei: "Tranquilo, tranquilo, mas vamos logo com isso".

O caminho até a Paulista

Caminho longo, cuidadosamente escolhido para evitar qualquer tipo de conflito com automotores. E não é que deu certo? Obtive grande ajuda do site bikemap, onde encontrei umas rotas maneiras de outras pessoas que eram bem planas e evitavam as avenidas. Costurei tudo com cuidado e vóila! (é assim que se escreve essa budega?) Tínhamos um caminho.

Quando colocamos o caminho à prova, sentimos na pele a importância dessa etapa crucial do ciclismo urbano. Nunca havia viajado tão rápido de bicicleta. E com segurança, o que é fundamental. Ficamos muito satisfeitos ao passar pelo SESC Belemzinho, ao lado do viaduto Guadarajara, na famosa Rua da Mooca, no belo bairro da Liberdade, dos orientais, na Rua Vergueiro e ao lado do Centro Cultural São Paulo, lugar incrível, e finalmente cruzamos o viaduto da Rua do Paraíso, chegando ao início da Av. Paulista, com suas luzes fortes e prédios gigantescos.

Pedalando na Paulista

Pedalar nesta grande avenida não é tarefa simples. É preciso ocupar a segunda faixa da direita, e não a primeira, pois nesta há grande concentração de ônibus. E é preciso se manter em linha reta a uma distância de mais ou menos um terço da linha de separação da primeira com a segunda faixa. Desta forma os motoristas não podem ocupar a segunda faixa, o que nos espremeria entre os carros e os ônibus. Já a ocupação total da faixa deixaria os motoristas furiosos, pois eles têm muita pressa, coitados.

Essa parte também foi tranquila, mas o Tiago ficou um pouco preocupado e em determinado momento quis ir pela calçada. Como estávamos atrasados e isso levaria muito tempo, resolvi continuar pela avenida mesmo, e foi sucesso. Alguns semáforos de pedestres foram ignorados, mas só quando já não havia pedestres querendo atravessar.

Cerca de 1 minuto após passarmos pelo MASP, ouvimos o barulho de uma multidão fazendo bagunça. Eram eles. A Massa Crítica. A Bicicletada de São Paulo. Vindo no sentido contrário, mais de 200 pessoas de bicicleta e algumas de patins. Uma cena bonita de se ver, tanto para quem está de fora como de dentro. E para entrar bastou atravessar a rua em um semáforo e seguir aquele monte de gente maluca.

"Menos carro, mais bicicleta!"

Encontramos rapidamente nosso professor, Ricardo Pires. Ele é muito simpático e divertido e apesar de morar muito perto da Praça do Ciclista nunca havia participado da bicicletada, pois dá aulas às sextas pela noite. Fiquei feliz por ele ter topado ir!

Também encontramos o Ian, colega de estágio do Tiago, gente finíssima. Ele logo se mostrou muito companheiro e foi fácil pedalar à vontade enquanto conversávamos. Será que todo mundo que anda de bike é mais gentil, por causa do estresse que deixa de passar?
Na foto, Tiago, Fabricio, Ian e Ricardo Pires.

A primeira coisa que me chamou a atenção nesse passeio foi a velocidade. Bem pequena, suficientemente até para perder o equilíbrio em alguns pontos. Para nós que estávamos cansados por vir de longe, foi ótimo. Isso também permitiu a participação de pessoas mais velhas, de crianças, e até de dois ciclistas com seus cachorros em cestos. Um clima festivo podia ser sentido no ar. E um clima de revolta por parte de alguns, também.

Pedalamos bastante, com muitas paradas em semáforos, algumas reclamações de motoristas apressadinhos e muito apoio de pedestres e motoristas conscientes. Foi muito legal gritar "mais bicicleta!" e perceber que não estava sozinho nesse desejo de viver num mundo com pessoas saudáveis, felizes e produtivas, e de ter ar limpo para respirar.

Paramos no ponto onde houve o acidente fatal do Sr. Antônio, acionista da Lorenzetti. Esse caso teve grande repercussão nas últimas duas semanas e levou a grande discussão sobre o uso da bicicleta como meio de transporte. Foi muito triste ver a Ghost Bike ali presa ao poste e imaginar que há pouco tempo havia um cadáver ali. Muito triste mesmo. "Morte de ciclista, que isso não se repita!"

Aliás, sei que poucas pessoas leêm isso, mas gostaria por favor que transformassem minha bicicleta numa ghost bike, caso aconteça algo enquanto pedalo por aí.

Continuando a bicicletada, pude reparar em algumas pessoas vestidas à caráter, afinal esta foi a Bicicletada Junina. Muitos chapéus de palha e um casal muito simpático numa bicicleta toda estilosa, de dois andares, a mulher com vestido típico e o homem com camisa xadrez. Vi pessoas de capacete e roupa de lycra, como numa competição, e vi pessoas de calça jeans como quem vai visitar um amigo do bairro. Um grande show, e eu surfando no mar de bicicletas.

Subimos o minhocão, e nos deparamos com algumas pessoas fazendo cooper. A maioria nos apoiou. Gente saiu à janela dos prédios para nos cumprimentar. Motoristas de ônibus acenaram, alguns com raiva, outros com divertimento. Nesse ponto já não aguentava mais nenhuma subida, hahaha. Mas eis que surge a tradicional Rua Augusta, e como estava muito movimentada aproveitamos para gritar bastante por nossa causa. E lá se foi minha última reserva de fôlego. Ufa!

Fim da bicicletada. Pausa para o lanche.

Nos despedimos do Ian, não depois de tirar uma foto para a posteridade! Aquela, mais acima.

Então o Profº Pires nos mostrou um lugar muito bacana onde vendem pedaços avulsos de pizza e se despedir, indo pra casa. É meio caro, mas que qualidade! A massa crocante, o recheio na medida certa, que delícia! Hehe, acho que estava com muita fome, e isso contribuiu para ter gostado tanto.
Pela foto vemos que bicicletas também precisam descansar. Não, na verdade não.

Comemos com calma (a melhor parte do ciclismo!) e decidimos voltar de metrô, pois a essa altura já passava das 23h30 e estávamos muito cansados. O Tiago teve a idéia muito boa de ir até a estação Tatuapé, que não é a mais próxima de casa, mas tem o caminho mais tranquilo e conhecido. E lá fomos nós, pois à partir das 20h30 pode-se usar a bicicleta nos trens por aqui. Que salvação!

Voltando cansado mas feliz

Saindo do metrô existe logo de cara a subida da Rua Tuiutí, que me pareceu bem menor do que eu tinha imaginado. Isso ocorre frequentemente, será que com vocês também? Não só com subidas, mas com problemas em geral. Sempre piores antes de serem enfrentados.

Passando novamente pela Praça Silvio Romero seguimos tranquilamente até a longa subida da R. Apucarana, que só pudemos enfrentar até a metade. O jeito foi descer e empurrar a bike, fazer o que? As ruas começavam a ficar desertas, mas ainda muitos bares e casas noturnas garantiram a iluminação e sensação de quase-segurança.

Por fim, o canteiro central da Av. Abel Ferreira, ciclovia improvisada, a subida da Rua Planeta. Avenida Sapopemba, velha conhecida. Quase lá. Que dor nas costas! Essas mountain bikes não foram feitas para longas distâncias. O prédio onde moro à vista. Despedindo do Tiago, chegando. Acalmando minha mãe. Travesseiro!

Depois de tudo isso, o que aprendi

Esse tipo de loucura é muito bom, nos faz sentir vivos. A bike não tem limites, basta ter força de vontade e treinar gradualmente. É claro que falar é mais fácil do que fazer. Se puder, compre uma bicicleta boa, muito boa, pois o ganho em conforto será muito maior, o que para longas distâncias fará a diferença.

E em relação à bicicletada, é tudo de bom. Procure participar na sua cidade, pois é muito divertido e dá uma sensação de fazer parte de algo maior, mais importante.

Abraços!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O ciclista invisível

O texto abaixo é uma tradução livre de um livro muito bom sobre ciclismo urbano chamado "The Art of Cycling"(A Arte do Ciclismo), do autor Robert Hurst. Esse cara trabalhava como mensageiro de bike nos Estados Unidos e tem muitas dicas boas sobre como pedalar com alegria e segurança(algumas bastante bem humoradas). O que mais me interessou nesse livro foi o fato de que a situação do ciclismo urbano por lá é bem semelhante à nossa, então as sugestões do Hurst serviram como uma luva para minhas curtas viagens. Espero que gostem.

"The Invisible Cyclist (O ciclista invisível)

Bem no meio da faixa, o ciclista pode se tornar mais visível para os outros, especialmente motoristas nos cruzamentos, pedestres, e motoristas do sentido contrário se preparando para uma curva à esquerda. Pode é a palavra-chave aqui.

A luta dos ciclistas por visibilidade tem sido um esforço longo e nobre. O problema é, não tem funcionado. Não importa quantos enfeites e ornamentação prendamos a nós mesmos, não importa quantos faróis piscantes a gente amarre na traseira, não importa qual grau nunca antes visto de insanidade neon consigamos ultrapassar nas nossas malucas escolhas, alguns motoristas continuam a olhar diretamente através de nós, como se fôssemos - isso mesmo - invisíveis.

Às vezes é assim que eu me sinto. Mas até que é bom, pelo menos não me arrisco tanto.


O sonho da visibilidade é como a doce sirene de uma ambulância que, eventualmente, podemos ouvir. Não que visibilidade seja uma coisa ruim, perceba; todos nós adoramos visibilidade. Apenas a atitude de fé na visibilidade põe o condutor da bicicleta num terreno escorregadio a caminho da condescêndencia, o que é um lugar muito perigoso para um ciclista dar um passeio. Se proteja da assustadora certeza de que uma posição mais destacada vai realmente te fazer mais visível pra todos os motoristas. Vá em frente e tome medidas para aumentar sua visibilidade - a roupa laranja, os pisca-piscas, et cetera - apenas não se iluda pensando que essas medidas vão sempre funcionar. É melhor assumir persistentemente que você não foi visto até que seja absolutamente óbvio que você foi percebido.*

Os ciclistas muitas vezes não são vistos, não importa como ou onde eles pedalem. Nós devemos aceitar isso como uma realidade, e agir a partir daí. Devemos lidar com a realidade como ela é, não como gostaríamos que fosse.



*Essa persistência pode ser temperada um pouquinho com respeito pelos veículos que nos ultrapassam. Os motoristas ultrapassando um ciclista são os que mais provavelmente o vêem, porque geralmente estão olhando para frente na direção do ciclista e têm mais tempo para percebê-lo(a). Por esse motivo, o condutor da bicicleta pode normalmente manter um justo espaço de segurança na direita mesmo que o veículo maior venha por trás. Mudar a posição para a direita nessas situações de ultrapassagem é normalmente mais uma questão de cortesia do que uma questão prática de segurança. Motoristas cruzando o caminho do ciclista são muito menos passíveis de notar o ciclista. Esse padrão é refletido nas estatísticas de acidentes. Já os pedestres confiam intensamente em sua audição e são propensos a sair da calçada para ruas silenciosas, na frente dos ciclistas, sem olhar antes. O fenômeno dos pedestres que não olham é uma das melhores razões para manter um gordo espaço de segurança à direita."

Espero que tenha ajudado. Tenho planos de traduzir o livro inteiro e disponibilizar aqui no blog.
Boas pedaladas!

terça-feira, 14 de junho de 2011

O período de transição

Vivemos em diversas grandes cidades brasileiras um fenômeno interessante. O número de pessoas utilizando a bicicleta como meio de transporte só cresce (Olha eu aqui pra provar!) e isso gera consequências para todos que precisam se deslocar. Não é difícil perceber, basta estar lá. Alguns reagem a isso com raiva, medo ou desconfiança. Eu tento apenas analisar o que está acontecendo e me adaptar.

Um iniciante pode ser identificado rapidamente, se você prestar atenção. Andar da contramão é um sinal clássico. Eventualmente, quase todos percebem que é menos seguro, seja do jeito fácil ou do jeito difícil, que é sofrendo um acidente. O receio nos movimentos, não conseguir manter a linha reta, a cara de assustado, entre outros, são mais sutis, mas estão lá.


Minha vontade é parar pra conversar com essas pessoas, e trocar informações. Perguntar o que está achando dessa forma de transporte e se pretende continuar. Passam tão rápido (muitas vezes mais rápido que o carro, até) e eu sempre passo vontade.

O importante é que essa confusão toda revela uma tendência muito clara por cidades mais inteligentes (ou menos burras). Me dá esperança, que é algo que falta um pouco a todos nós, urbanos.

Caro leitor, vamos trabalhar para que a geração dos nossos filhos possa viver melhor que a nossa. Não para que tenham só mais conforto material, mas principalmente qualidade de vida. Usando a bicicleta contribuímos nisso!

E que os iniciantes possam se aprimorar cada vez mais para ensinar os novos iniciantes que virão.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Que frio!

Na última semana fez um frio e tanto por aqui. E lá segui eu, minha touca e minhas luvas felizes da vida no dia da bike.

O pior de tudo é o começo. Tenho preguiça de alongar antes de sair de casa e depois me arrependo amargamente. Mas aí já é tarde, afinal onde já se viu parar a bicicleta no meio da rua para ficar se esticando, ainda mais com a temperatura tão baixa? Tive que usar o velho método de pegar pesado nas subidas.

Sim, porque as amigas marchas podem ser as inimigas marchas, se você deixar. Mas no frio isso é bom, pois esquenta o corpo e espanta o sono. E assim segui viagem em direção ao metrô Vila Prudente.

Na ida ainda usei uma nova aquisição, que são os prendedores para calças jeans e similares feitos por minha namorada. Eles ficam ao redor do tornozelo e impedem a barra da calça de ficar esbarrando na engrenagem da frente. Isso é muito útil e minhas calças agradecem. Porém na volta esqueci o aparato guardado no bolso e toda sua utilidade não pode se manifestar. Triste encontro entre jeans e graxa, graxa e jeans. Inseparáveis.

Sendo assim, encorajo a todos que tenham receio de pedalar no frio que experimentem, pois é uma sensação de superação muito boa e todos merecem vivê-la.

Abraços!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Usando a bicicleta na cidade dos automóveis

Esta semana estava no meu tradicional "dia da bike" por aí, a caminho do metrô e comecei a reparar em quantos postos de gasolina existem no caminho. São quase tantos postos quanto botecos! Conseqüência direta da grande (gigantesca? grotescamente exagerada?) frota de automotores que possuímos na cidade de São Paulo.

Tal observação me levou a pensar que tenho muitos lugares para encher o pneu da bicicleta, comer um lanche ou beber água. Maravilha!

domingo, 5 de junho de 2011

Pedalando com iniciantes

Ontem pedalei com minha namorada, que experimentava a sensação de usar a bicicleta na rua pela primeira vez. No começo foi um desastre, mas no final um sucesso. Eu mesmo não sou assim tão experiente para acompanhar alguém em sua primeira volta pelas ruas esburacadas da cidade de São Paulo, mas como sou o único que já usa a bicicleta como transporte há alguns meses do nosso círculo de amizades, fui escolhido para essa difícil tarefa.

Antes de começar, uma passada na bicicletaria para pequenos ajustes. Neste momento estávamos ambos muito empolgados com a oportunidade, a ponto de beirar a histeria. Afinal, não é todo dia que podemos juntar duas coisas maneiras como andar de bicicleta e namorar desse jeito.

Então, a partida. Na primeira rua a Pri ficava muito para a direita, morrendo de medo. E eu sem paciência, pois não importa o quanto pedisse que ocupasse seu espaço na pista, ela não conseguia. Foram momentos difíceis. Apenas depois de um longo tempo e algumas idas e vindas na mesma rua aumentando gradualmente o espaço ocupado na via, que conseguimos seguir para a próxima etapa.

Felizmente, a segunda rua que passamos era bem menos movimentada, e com diversos pontos onde se podia parar tranquilamente atrás de um carro estacionado para conversar. Aos poucos, ela foi perdendo o medo e eu também. Depois de um tempo já estávamos conversando tranquilamente enquanto desviávamos dos buracos. Sensação muito, muito boa. De superação, de vitória depois de uma longa batalha. Recomendo a todos!

Portanto, quando for acompanhar alguém em sua primeira incursão pelo pavimento tenha muita paciência e respeite ao máximo os medos dessa pessoa, mesmo que sejam baseados na ignorância. Todos nós que pedalamos por aí, ou quase todos, já tivemos sentimentos de grande receio ao estar na frente de um carro se aproximando com certa velocidade. É natural. O importante é que cada um à sua maneira supera isso e se torna livre pra sentir o vento no rosto, tão gostoso para refrescar depois de um dia cansativo.